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quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Neve Poente no Campo.

Aos filósofos, os novos amigos, bonecos de carne
Aos impertinentes, acordados e interessados,
postos atentos, os olhos arregalados:
Nasci do frio e Morfeu Imperador me calou com os dedos. Suturou meu buraco de boca, me restaram olhos e um nariz cenoura. Como as corujas, a quem deu olhos enormes, luas negras eclipsando anéis brancos. E a visão que penetra intensa, como lanças. Às curiosas corujas Morfeu cedeu a visão lunática, pálida em mistério. Perante a floresta branca me calo e tremo. Selva de gelo, das árvores mortas, selva da sobrevivência. Minhas curvas me denunciam. Bola de neve no reino do gelo, das estalactites, é presa do tempo. Mas as horas compartilham comigo a lentidão. Paciência anciã, vinda do espaço. O inverno e o gelo são recordações do vácuo espacial. Frios, lentos e assassinos. Porém, o inverno é feito d’água. D’água pulsante, viva, cristalina. Água mãe de todos seres, grávida do solo. Um dia a água preencherá todo o universo. E permanecerei sentado aqui, boneco de neve, espantalho das rapousas e dos lobos brancos. De meu fadado recanto gélido, sou vigia do tempo branco. Cristalizada em teias de rios congelados e neve, a delicada natureza hiberna e me encarrego de guardar seu sono profundo. Se não eu quem confortará os galhos secos? Quem escreverá as serenatas da neve poente no campo?

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