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quarta-feira, 17 de junho de 2009

O que é preciso dizer, mas não desentala.

Começa molhado. Começa com explosões elétricas no céu. Difícil me expressar sem saber o que quero dizer. Queria montar a cena e o sentimento e nos estender por montagens incontáveis de quatro minutos. No espaço. Talvez assim fosse possível a compreensão de ambos. Talvez, no acidente das inúteis falas, falasse o que é necessário, e quem ali ouvisse tomaria pra si. Eu na cama vazia, tão desinteressante. Na cama vazio. A mim vêm as vozes. Mas não informam nem auxiliam. As vozes dos velhos amigos, nos nostálgicos momentos que perdi. O que há para se falar se não que perdemos tudo. Os amigos, a mãe, o cachorro, o irmão, o professor. Perdemos até nós mesmos. Então fica o chão gelado no pé descalço, os planos para amanhã, a lista de compra, as vozes. Sorte, daqueles que sabem o que querem. Destemidos, prontos a tomar a vida. Vejo tão claramente o desperdício que é passar os dias pensando no que se quer, definindo o que não se quer, ao invés de tomando o que se quer. Não quero ferir ao próximo. Não quero deixar de contribuir. Quero tomates na feira, banho de cachoeira. Ou desperdício de cérebro, emoção barata. É a estrada para o anulamento da alma, querer e não fazer. Se privar o desejo. O que quero dizer, mas não desentala, é que eu quero amor. Quero a sua chuva em mim, para não ficar seco. Quero a chuva, para dormir tranquilo. Explosões elétricas no céu. Quero ser a mata virgem do Rio. Molhado começo. Sorte, daqueles poucos. Sorte, daqueles outros.