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quarta-feira, 24 de março de 2010

No telhado do prédio de letras, jogando estalinhos nos poetas.

Pólvora nos poetas
Ablusados, chamuscados
Dancem sob minha ira
estourai-vos, entalados

Urrem pulmões na dor
Cântico escravo de cor
Filtro-los no mosaico
Laicos de meia branca

Brandem-me seus floemas
Queimem qui os dilemas
Jovens pobres poetas
dedos do idioma

Bombas aos sós poetas
Estalo a realidade
Choram pelo eterno ontem
Sem dor, Sem dor
Explodem

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tinta para escrever em metal, vidro, papel & plástico

Para escrever em português é preciso freiar o cérebro e pedi-lo para parar de cantar letras de músicas americanas. Depois, é uma simples questão de ouvir a chuva que cai determinada e sentir pela primeira vez no ano o frio, vestir as meias grossas de lã, abandonadas aos escombros escuros do armário e curvar-se pensivamente sobre a velha amiga escrivaninha. Me cerco com os volumes de minhas íntimas inspirações literárias, que, confesso, me inspiram mais pela estética das pilhas envelhecidas e o imaginário representado do que pelas próprias palavras. Como eles, sou uma expressão estética e pessoal daquilo que sou e também são minhas propriedades. Me tornei um imaginário, um personagem em um livro, condicionado às palavras de um autor humano e emprisionado pelo encapamento.
Nemo tinha sua tripulação, seu submarino, Viktor tinha seu monstro, Edgar tinha sua insanidade mórbida, Holden seu tédio. O que me pertence? O que me define? Qual é meu livro e onde posso encontrá-lo para saber o que acontece agora?