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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Some other dude.

Well I've been fine recently
Still confined as you can see
Still dependant on
The city lights for fun

But it's the fights i miss the most
You're so clever when you're throwing stones
And the streets they don't
Get wet until you're done

Well I know your heart is small
But it gets bigger every day
And if you only came to stay
We could build a room

And if you waited til the end
And saw me as more of a friend
I'm sure you'd pick me instead of
Some other dude

Cuz I've been dying recently
From the tops of river trees
I've been floating on, not living up
Still hanging on the corner of

The fights i miss the most
You're a devil when you're wearing rose
And the streets will not
get wet until i'm old

Yes i know your heart is small
but you get bigger everyday
and if you only spent the day
we could get a room

If you waited til the end
And saw that i was there again
I'm sure you'd call me instead of
some other dude.

domingo, 19 de setembro de 2010

Teus cachos merecem crisântemos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Poema de 1 minuto.

Não sinto muro
Entre mim e o mundo
Não sinto nulo
Não vejo erro
Não quero drama
Não sinto enfermo
Não no fundo
Sim sou no scuro
solo no mundo
Sem raiva ruiva ou muro
Sim ao novo
Mesmo duro
ao que me luta
Sim ao furo
Sim ao fruto
Mesmo doente
Sim ao luto
Sim aos meus dentes
Sim erotismo,
romance
ao árabe
Áfrico,
Ao selvo
Ao calmo
Sim à alma
Ao que tenho medo
Ao pior desejo
Ao filme ruim
À má vontade
Sim dentro de mim
Inteiro,
ou em colagens
Sim mesmo quando não
Não fugir do sim
Sim pela certeza do sangue
Acordar novos dias
Dias virão
Eu serei
Tolo ou rei
Sujo ou não
Irmã ou irmão
Sim a isso
Não ou sim.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Levity pt. 1

Serenity's levity
In livid love
Does coves of plume
Azure above
And mute the latter
Bathes a son
That blooms in
Tendrils undone

But summer's union
Lacked the warmth
To put at ease
A lover's storm
And scorned the woman
Killed the man
And undertook
His corded hand

To ever lie
In winter's gaunt
Ever deny
The cinders' want

For Emma, Forever Ago

Teu cheiro é doce. Meu ponto na última noite é o despertar do olfato, primo distante da percepção. Aprendo teu cheiro como meu rosto na madeira dura da árvore, doce. E, às noites antes, espantos e ensaios de discursos intoxicados. Curtas íntimos esquizofrênicos de amor exalado. Amor alado inalado fresco como amanhecer ao beira-mar. Laranjas invadindo o anil como o parto de um semi-deus no horizonte. Nascido do fecundo oceano, o amor e o mistério puro. Não consigo me expressar bem APAGA APAGA APAGA APAGA.

Assopra. Vush. Os restos mortais de uma borracha despedaçada. Assim como nós todos, despedaçados.

Ela fecha e abre a porta. Assim como fecham os maquinários de trem, a portilha da fornalha, e abrem novamente para jogar a lenha. Quando ela abre a porta vejo a queimaria acalente, sinto torrar o rosto, me esquenta os dedos gelados na bota. A lenha estoura no fogo. Ela fecha e abre a porta, não entro. Chove na praia e o mar é uma chapa de grafite em ebulição. Pego chuva e meu tênis enche d'água, estou tentando esquecer alguém de quem não me lembro. Só há um número de telefone na minha agenda. Só há um rumo intrínseco às minhas pernas. Meu coração é difícil segurar molhado, pula e escapula e escorrega por entre meus dedos, bate na areia e rola ao mar e o mar o engole em ondas esfomeadas que o puxam às profundezas do mistério puro e Poseidon e a Pequena Sereia. Quero contá-la que meu cardíaco foi furtado ou por um Deus grego, ou por uma personagem humanóide da Disney. Ela ri mas lamenta minha tragédia. Pausa.
De todas as palavras formadas, nenhuma dessas tateei com as mãos. São como palavras impressas no jornal de um dia em que não li o jornal. Todas minhas palavras tem amor, mas nenhuma delas é amorosa. Queria ter palavras amoras, manga e mel. Queria lhe dar minhas palavras como um presente, como um dia em Paquetá ou um beijo de hortelã. Palavras molhadas de tinta, perambulando pelo teto do meu quarto a noite, brilhando fracamente em verde pálido como estrelas. Desvencilhada, essa é a palavra certa. Ela desvencilhada. Como meu coração - peixe abissal. O que há para amar em um pinóquio a procura de um peixe abissal? Ela não merece o vazio azulado. Merece o quente do amor do lobo, focinho gelado e pelugem quente e o coração lupino entre as costelas, instintual como todo ser-vivo, molhado de vida. Eu lhe daria Saturno, mas é um planeta congelado do outro lado da galáxia. Flores de papel mergulhadas em nanquim e envolvidas com letrinhas que compões os infindos poemas sobre seu nome, florescidas vermelhas, anil e laranja em Abril. O suco de laranjas frescas, acordes de violão, madrugadas viradas, cobertores, todas minhas películas. Quero conhecer os harmônicos de sua voz.

APAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGAAPAGA.


Hell, even nature awakens.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

In the Wee Small Hours

In the wee small hours of the morning,
While the whole wide world is fast asleep,
You lie awake and think about the girl
And never, ever think of counting sheep.

When your lonely heart has learned its lesson,
You'd be hers if only she would call,
In the wee small hours of the morning,
That's the time you miss her most of all.

sábado, 14 de agosto de 2010

Bill e Paulo.

-- Eu não quero... Eu temo fazer essa pergunta, essa pergunta que parece ser sua ruína, sua sina, sua cruz pra carregar nas costas, mas que, como assombração, volta aos meus lábios cada vez que nos encontramos. Tenho de lhe perguntar como o médico tem que lhe enfiar a agulha e o soro na veia.
-- Sim, Bill, Sim. Sei a pergunta, eu sei. Assombração, ruína, morfina na veia, já veio escrito no seu hálito de pastilha e cigarro importado.
-- Paulo, é só responder. Você tem uma resposta?
-- Você podia experimentar mentolados.
-- Me dão fome. Paulo, o livro tem um final ou não?
-- O final é uma instituição do passado. Os romances modernos são desamarrados, recortados, eles são brutalmente honestos e não pretendem a finalidade. O personagem moderno é incerto, desequilibrado, baseado na quebra de princípios ultrapassados como a moral, como a estética perfeita, como início meio e fim. Quando, onde e quem, são perguntas dos roteiristas decrépitos da Era de Ouro enrugada de Hollywood. Nós não fomos apresentados quando chegamos. É ação ininterrupta, Cut to the Chase, geralmente dada por personagens mudos que buscam desesperadamente (assim como o leitor) sentir a mistura paradoxal da originalidade com a familiaridade.
-- Você tem um final?
-- Melhor do que um final, eu tenho ansiedade, insônia, insegurança, um destaque sólido da realidade. Todas fianças críveis de que meu garrancho produzirá obra neurótica o suficiente pra comunicar com as massas nervosas da fragmentada realidade atual. Meu Gran Finale é o vácuo existencial que todos querem reconhecer em si, representado nesse caso pela morte súbita do romance em páginas indubitavelmente brancas. A lacuna cultural. O grande foda-se da arte de volta pra sociedade apática. E não me surpreenderia se o que vier de mim como vingança justificada do meio for interpretado como reflexo penetrante da inaderência dessa geração. Esses apertadores de teclas.
-- Então você não tem um final ainda.
-- Não.
-- Você tem duas semanas.
-- Eu já imaginava pela sua ingrata escolha de meias.
-- Duas semanas e depois eles vão querer uma leitura inicial.
-- Leitada oficial inicial do meu final.
-- Sem prostitutas, Paulo.
-- Meu caro! Cem prostitutas em duas semanas seria um feito muito maior do que o romance.
-- Sem mulheres em geral.
-- Você obviamente não entende nada de romances.
-- Paulo.
-- Bill, não se preocupe com o livro, mas jogue fora as meias.

sábado, 7 de agosto de 2010

A dança dos felinos veludos e o lumiar demoníaco dos números vermelhos no meu rádio-relógio.

O couro encapando o livro era puro vermelho-sangue. Tão cortante e derramada era a cor que despertava ao olhar distraído mórbida curiosidade pelo processo de tintura. O leitor, em pleno leito, era feito vilão diabólico, manchando os dedos naquela carnificina toda. Sendo eu mesmo a vítima dessa posição, curvava como vilão o arco dos ombros magros, que formam junto à base da coluna um V estiloso nas costas. Atracado na poltrona da madrugada na felinidade gorda noturna, rangia até gastar os dentes, pra certo de não ficar surdo e louco com a agulha mortal do silêncio. Minha família dorme feito assassinato e na ausência de demais insones as paredes não me poupam olhares acusativos. Cochicham na cozinha. O livro que se derretia pingou ao chão e com o molho do couro nas garras parecia injusto arrastar as paredes por rigorosa investigação. "Matei eles todos." confessei sem rodeios, "Posso fazer um telefonema?". Suado no desespero, engancho o indicador ensagüentado na roda do aparelho antigo, que giro loucamente até o freio metálico parecendo até vitrola quebrada, que repete, que repete, que repete. Estou ligando para a única alma que me atenderia a essa hora, ligando do interior de um pesadelo. Um ex-amante tornado amigo que contratei como secretária quando sua família tragicamente foi assassinada enquanto dormia. Em apavorante decepção o sinal não é atendido - as paredes parecem descer em minha direção. Elas sobem e descem como a faca de Norman Bates, como minha respiração tubulenta; lentamente me alcançam. Finalmente desisto derrotado de ouvir o sino eletrônico que chama minha imprestável secretária-alma-gêmea?. Engancho o receptor. O telefone imediatamente se põe a berraria. Atendo pra não incomodar os dormentes mas é minha rouca voz que sussurra do outro lado. Havia ligado pra mim mesmo?
- Quem fala?
- Eu mesmo.
- Que quer?
- Matei o tempo.
- Porra.
- As paredes estão descendo, vêm me coletar.
- Fique sob a batente.
- É verdade.
- Algo mais?
- Acho que estou surdo.
- É possível. Aperte, com os dedos, cada tímpano. Sente dor?
- Não sinto, mas minhas mãos estão ensangüentadas!
- Pode ser uma hemorragia cerebral.
- Acho que nunca te amei.
- Todos hemorragiados do cérebro dizem isso.
- Quanto tempo tenho pra viver?
- Não é muito.
- Nos veremos novamente?
- Não como nos vimos antes.

domingo, 18 de julho de 2010

Humano.

Surrupiado momento inquieto, visto do horizonte. Minha voz sem causa. Sem grave ou agudo. Uma voz oca, amassada na brisa perdida. Ordenada paisagem equilibrista do quadro geográfico: rocha coberta de limo, doce tapete azul e cabelos esvoaçando na marisia. Ondas de ouro revelando o segredo sinuoso de um pescoço. À noite, nos escombros, pedregulhos rubros e vítreos refletem meus pensamentos vulcânicos. Inanição das folhas secas sem sequer tronco seco por perto. Inanição minha, alimentado do vento e do silêncio desconfiado. Pretas letras de publicações censuradas em jornais do café da manhã, contrastadas com as pedras portuguesas no beira mar. Manu esteve aqui, diz a calma. Meu nome é um gesso que engoli ao nascer e emplastrou meu útero. Caido errado, pingando a seiva de mãe, no arenoso e movediço. Pernicioso deserto humano. Pernilongo tentaculado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Taquicardia

De miúdo e esparso o sonzinho cresce. Um tremer d'um zumbido de abelha, um fio gudo aguçando e abrindo. Um som por trás do barulho, quase imaginário, lá no fundo do mundo escuro lá fora. Mas está crescendo, está mudando, se aproximando, você sente pela vibração no ar e da lâmpada acesa. De repente o som adentra seu quarto, enorme, estrondoso, preenchendo as paredes, e você reconhece a criatura-melodia. Ensurdecedora, retumbante, penetrando pelos seus ouvidos e invadindo seus pulmões, é a nona sinfonia de Beethoven que cresce e se torna imensa titânica. Cantam vibrantes em operettos e falsettos, sopranos e contraltos, polífonos barítonos clarinetes e violinos aleggros sticattos crescendo flautinas sinetas agudos tinindo a capella em glória soada aos deuses. Sua pele formiga vibrando, pelos seus braços e adentro sua boca. A lâmpada acesa no teto se expande, ofuscante, queimando um incêndio, sua retina em um fogo, um calor que te possui e seu corpo sua encharcado pelos braços e as costas molhadas às pernas que violentas tremem. O intenso brilho penetrante consome sua visão, te cega. A sinfonia ressoa tempestuosa, atravessando a luz branca, o calor extremo que te come por dentro, e acima da orquestra sua respiração doente, desesperada, o bater surdo do seu coração como uma pancada ao tímpano. Sua boca seca e cheia de dentes e línguas traga o mar vermelho do oxigênio quente, esbraseante, do quarto. Não está mais ali. Está na intensidade, no fogo, no inferno, seu corpo está imerso na presença clara de Deus. Não tem controle, se entrega. Cego, tremendo, não sabe nem mais do seu corpo, que era. A pressão do coração batendo é forte, te nocauteia. 5 litros de sangue entram e saem do seu coração. Vuvum, vuvum, vuvum, vuvum. Você sente o pulsar do órgão com a mão no peito que o segura. Ainda cego, com os olhos abertos em uma densa névoa luminosa, sente os dedos e os joelhos. Param de formigar. A quentura esfria. A língua fria lambe e molha os lábios novamente. A sua respiração se acalma. A luz se retrai lentamente e você percebe o quarto que sempre esteve ali. O quarto vazio com a cama desfeita, o armário de madeira escura e a porta que dá pro mundo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

PODER vs Amor.




Por Ostra, Tortuguita e Eu.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bobagem.

Janeira é multidão e ossos
e Melindragem
Sou toscano caido na fossa
fotomontagem
Impercepção de tudo
ou quase tudo
Vira-me vasta miragem
Truco no rolo do filme
viragem
Chama na asa na queda
lançando peças
bobagem
destroços e corpos no mar
Sombrio e glacial.

Devaneio.

Enfim ponho-me à uma cautelosa escrita, como o cego que tatea a calçada com sua vara colapsável. Curvo-me sobre o papel assombrado pelo velho ditado de que não se pode ser escritor quem nada nunca escreve. Não que me falte o desejo confuso de expressão, mas não me sinto hábil a transformar em literatura um catálogo de pensamentos implosivos e simultâneos lidos a mim pela minha própria voz interna, que, a propósito, é menos fanha e insegura do que a que profiro pelos dentes. Também não sinto que posso extenuar a eventual transcrição de roteiros cinemátofos, recortes de cena e diálogos soltos que possantemente dominaram essa minha sala escura de escritas. Eventual digo por admitir que reincidirá e não deixarão de surgir os tais, dada minha necessidade de retê-los e revê-los posteriormente para que componham os grandiosos filmes de surrealismo minimalista que possa vir a produzir, humildemente falando.
Em uma ou outra das crises existenciais que resolveram me banhar recentemente (no sentido literal, pois se escova muita sujeira da mente nessas crises), percebi que, em parte, é possível que minha decisão unânime de me tornar cineasta tenha derivado de meu precisar de uma namorada. Certo dia, em um estupor de juventude que me durou anos, decidi tomar para mim que os relacionamentos são ou seriam como obras de arte e que, através da troca singular de hormônios e oxigênio, se criava ali, entre dois interlocutores, humanos ou pássaros, na rua, no bar ou no quarto de hotel, uma pintura, uma sonata, um curta ou longa ou demasiada arte. Assim fui percebendo todos meus encontros, com os cobradores de ônibus, amigos dos amigos, mãe, pai, Deus e os Orixás: cada um com suas nuâncias, cada um com suas pinceladas em tons de azul marinho ou marrom, cada um perfeito em si. Minha percepção do contato humano, porém, foi se diluindo, como as tintas se misturam no stêncil, e todas as trocas de olhares, as tosses e os sorrisos, que haviam se tornado unidades poéticas assim como são as ondas na praia ou os flocos de neve, se demonstravam também incuravelmente furtos.
Me desesperei ao meio de tantas obras de arte desperdiçadas, largadas na beira da estrada, e me lancei ao esmero de aperfeiçoar a minha composição metafísica de sinfonias do contato humano. Fi-lo com o ímpeto de transformar, ingenuamente, meus amigos, conhecidos e amantes em vitalícias frutas que poderia degustar eternamente, congelados na forma de quadros, poemas ou rolos de nitrato. Percebi-me então ator e diretor da minha reimaginação da grande comédia, da grande tragédia e do grande romance (que nunca veio). Feito uma escultura tridimensional que se revela por entre os desenho coloridos de uma ilusão óptica, percebi a câmera filmadora que eu pusera por trás de meus olhos, e o mis-en-scène que sempre havia composto.
Talvez a melhor conclusão que me veio com os tais devaneios foi de que o congelamento criogênico ainda não é cientificamente possível (fora da ficção-científica) e tais lendas, como a do corpo de Walt Disney glacificado no subterrâneo da atração dos Piratas do Caribe, servem para o incendiamento da imaginação e não da realidade. Roubar o momento de sua fugacidade para guardá-lo para sempre é como roubar a vida de uma pessoa e se ater ao corpo. Percebo, porém, que a arte moderna não se contenta com o etéreo universo do imaginário e muitas vezes se projeta nas ruas e nos escritórios, tomando para si a romântica tarefa de criar obras cujo canvas é o próprio mundo. E concordo. Vejo muitas peças contidas em salas de teatro e saio nervoso, como se ali dentro ouvira um segredo que não podia repetir no mundo real por medo de ser posto no hospício. É muito charmoso, é claro, mas talvez seja necessário retirar as paredes que erguem a separação. A cortina vermelha como um aviso piscante de que é apenas um espetáculo, para não confundirem com a realidade. A sociedade teme o espetáculo. O fantástico não se restringe aos limites da gravata e da camisa branca. A fantasia dá coragem ao homem domesticado como um carneiro gordo ao leão de circo. Não sei mais o que estou falando. Saia daqui e vá conversar com um estranho na rua.

Soul Coughing

Na rua, eles com armas apontadas pra ele.
Escuro, e a lâmpada no alto do poste criando uma poça amarela de luz.
Ele de quatro, na poça amarela. Ele tossindo, tossindo sem parar.
Sua vida pertence a nós. E as armas engatilham. Caclésh.
A tosse fica mais violenta. Ele, seus braços magros estendendo os ombros do cimento. A cabeça e o cabelo oleoso, caindo na cara, babado, tossindo. Arruegh. Rrugh.

E ao cimento cai em cordas a baba. Ele em convulsões. A perna estirada na calçada cinza, as jeans rasgadas. E, em uma contração violenta do estômago, algo lhe começa a sair pela boca. Uma bolha roxa e pegajosa. A catárse, o âmago, a verdade horrenda. Ele engasga, a cabeça balança, todo corpo trêmulo, fraco. Cai no chão a bolha, com um som estourado de soco. Ali, no asfalto, ali na rua, paria pela boca seu coração. E colapsou nervoso, vazio. Sua vida lhes pertencia.

Um papel numa garrafa verde.

Seria assim.

No quadro só seus rostos, de frente um ao outro, os cabelos pretos, ambos curtos, e os pescoços. No fundo, a esquerda, uma grande janela.
Ambos respiram ofegantes, intensamente.
- Se eu fosse um segredo, você contaria a alguém?
ele pergunta.

e então cortaria para uma curta cena dela na praia de noite. Ela está toda iluminada por uma luz branca olhando ofegante as ondas baterem.
Ela, determinadamente tira do bolso um papel, enrola, enfia dentro de uma garrafa verde vazia e faz um grande esforço para enfiar a rolha.
Ela joga a garrafa ao mar. A garrafa cai na água e é trazida de volta por uma onda pequena, e então é puxada ao oceano escuro de novo no retrair.

Volta ao quadro deles dois.
- Eu jogaria você no mar.
Ela diz.
Ele, depois de um segundo, levanta para sair do quarto.

- Leva consigo suas coisas.
E ele pega o casaco no chão, e pega a caixa, olha pra ela, e vai.

A Neve Poente no Campo.

Aos filósofos, os novos amigos, bonecos de carne
Aos impertinentes, acordados e interessados,
postos atentos, os olhos arregalados:
Nasci do frio e Morfeu Imperador me calou com os dedos. Suturou meu buraco de boca, me restaram olhos e um nariz cenoura. Como as corujas, a quem deu olhos enormes, luas negras eclipsando anéis brancos. E a visão que penetra intensa, como lanças. Às curiosas corujas Morfeu cedeu a visão lunática, pálida em mistério. Perante a floresta branca me calo e tremo. Selva de gelo, das árvores mortas, selva da sobrevivência. Minhas curvas me denunciam. Bola de neve no reino do gelo, das estalactites, é presa do tempo. Mas as horas compartilham comigo a lentidão. Paciência anciã, vinda do espaço. O inverno e o gelo são recordações do vácuo espacial. Frios, lentos e assassinos. Porém, o inverno é feito d’água. D’água pulsante, viva, cristalina. Água mãe de todos seres, grávida do solo. Um dia a água preencherá todo o universo. E permanecerei sentado aqui, boneco de neve, espantalho das rapousas e dos lobos brancos. De meu fadado recanto gélido, sou vigia do tempo branco. Cristalizada em teias de rios congelados e neve, a delicada natureza hiberna e me encarrego de guardar seu sono profundo. Se não eu quem confortará os galhos secos? Quem escreverá as serenatas da neve poente no campo?

quarta-feira, 24 de março de 2010

No telhado do prédio de letras, jogando estalinhos nos poetas.

Pólvora nos poetas
Ablusados, chamuscados
Dancem sob minha ira
estourai-vos, entalados

Urrem pulmões na dor
Cântico escravo de cor
Filtro-los no mosaico
Laicos de meia branca

Brandem-me seus floemas
Queimem qui os dilemas
Jovens pobres poetas
dedos do idioma

Bombas aos sós poetas
Estalo a realidade
Choram pelo eterno ontem
Sem dor, Sem dor
Explodem

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tinta para escrever em metal, vidro, papel & plástico

Para escrever em português é preciso freiar o cérebro e pedi-lo para parar de cantar letras de músicas americanas. Depois, é uma simples questão de ouvir a chuva que cai determinada e sentir pela primeira vez no ano o frio, vestir as meias grossas de lã, abandonadas aos escombros escuros do armário e curvar-se pensivamente sobre a velha amiga escrivaninha. Me cerco com os volumes de minhas íntimas inspirações literárias, que, confesso, me inspiram mais pela estética das pilhas envelhecidas e o imaginário representado do que pelas próprias palavras. Como eles, sou uma expressão estética e pessoal daquilo que sou e também são minhas propriedades. Me tornei um imaginário, um personagem em um livro, condicionado às palavras de um autor humano e emprisionado pelo encapamento.
Nemo tinha sua tripulação, seu submarino, Viktor tinha seu monstro, Edgar tinha sua insanidade mórbida, Holden seu tédio. O que me pertence? O que me define? Qual é meu livro e onde posso encontrá-lo para saber o que acontece agora?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Para você

Meu velho amigo, quanto tempo.
Meu bom e velho amigo. Grande pessoa, gigante.
Pensei em ti por aí, pensei na velha guarda. Passei pelos mesmos lugares que vimos juntos e tive nas modernidades um susto. O tempo que passou não foi pouco, desde os dias em que andávamos juntos. Quis vir visitá-lo, fazer uma festa em você, dar aquele abraço. Como está o bom e velho coração? Teu pulsante, enorme e roxo, que sempre me pega surpreso quando faz tremer as paredes e os galhos das árvores.
Como está seu amor? venho espalhando o pouco que você me deu por aí, ensinando os outros a acreditarem no ser humano, a sentir a arte como um ser vivo. Arte-Deus, que nos consome. Com o pouco amor que me deu fiz muitos retratos lindos, de grandes bocas cheias de dentes sorrindo, de brasileiros cansados se cumprimentando no calor sufocante. E você, está sentindo o seu amor? Sabe o que dizem; ama-te primeiro a si próprio para então ter a capacidade de amar bem ao outro.
Eu sei, eu sei, é difícil nessa cidade! Nesse centro urbano em que o bombardeio de informações inúteis distorce a percepção de milhões de cidadãos suados até que ninguém se lembra mais da intimidade ou da sabedoria. Em que procuramos abrigo nas ilusões, despedaçando a mente como esquizofrênicos carentes. Meu lindo, caro e tenro amigo, exemplo de compaixão pura, meu compadre, conte-me suas aflições, vim te fazer um afago. Sinto que precisa de um alívio, sinta esse meu carinho.
Não falemos agora de inspiração. Para inspirar, é preciso primeiro expirar, esvaziar a mente e o corpo dos fardos e do peso morto, dos nós nas costas e da tensão no rosto. Encontrar um velho amigo é como relaxar sobre o sol, é como mergulhar na água fria e lentamente deixar para trás os problemas. Quando se vive na cidade grande, a natureza é como um velho amigo.
E a família, como vai? (pergunta que só amigo faz) Só os amigos chegam tão perto pra saber, ou se importar. Aposto que estão todos mudados e todos iguais. Crescidos, com novos planos pra mesma vida. Novas modas, mas aquele mesmo jeitão.
E você, em breve terá filhos, não é? Nem consigo imaginar! Filhos do meu bom e velho. Eu sou terrível com crianças, é claro, não sei que lado é pra cima quando se segura um bebê. Mas talvez criançolas com seus olhos e sua paixão pela vida me fariam adaptar. Ou talvez eu desmoronaria em vê-los. Como você será com seus mininos? Estudarão no CAp ou você os levaria pra África, pra Europa ou algum lugar exótico? Será que ouvirão Led Zeppelin? Será que voarão em carros? Você lerá para eles aquele livro que te dei? Velho amigo, você será um bom pai, eu sei, seus filhos te amarão muito e vocês terão os mais gostosos momentos, as mais felizes gargalhadas. Consigo até ouvir os gritos estridentes dos monstrinhos, pulando, com felicidade natalina nos olhos enormes, e correndo pela casa as seis da manhã.
Meu velho, está se sentindo melhor? Então conte mais dos problemas se quiser, e depois acenderemos uma fogueira para esquentar os dedos. Estou aqui para ouvir-te, poxa mas que saudade eu tinha! E perante a fogueira falaremos, então, de sonhos. Para reviver os bons tempos, é o melhor tipo de nostalgia.
Tenho sonhado com densas florestas habitadas por entes folclóricos, tenho incorporado o Jim Morrison. Eu vi palhaços ouvindo Bon Jovi dentro de um carro pequeno em um estacionamento vazio. Eu vi homens de bigode grosso pisar em uvas vermelhas para fazer novos sonhos. Eu vi a chama de uma vela crescer até preencher um salão e me cegar completamente, e senti a força da Terra sacudir meu corpo feito uma árvore na ventania. Vi tudo isso acordado, com os olhos abertos.
Conte-me dos seus sonhos. O que os habita? Quais são os sons dos seus sonhos? Como são as cores? Uma vez você me falou do gosto molhado de uma maçã vermelha e branca que quebrava entre seus dentes como quebram folhas secas sobre meus pés. Acho que você incorporava o Jim Morrison naquela época. Uma vez eu sentia mais o que suas palavras descreviam do que o que minhas mãos tocavam ou meus olhos viam. Mas isso foi a muito tempo, e quantos tempos já não vivemos.
Depois da morte, só lembrarão do que fizemos em alguns poucos dias específicos. Um dia seremos todos reduzidos a algumas poucas memórias afetivas de pessoas vivendo em outro século. O que sentimos e pensamos não importa para o futuro, apenas para o nosso humor. Por isso tento lhe dar um afeto aqui, antigo e verdadeiro amigo, poeta companheiro. Te dar um abraço verbal, uma paz de espírito, uma ajudinha, um tapinha. (Mais de) metade da nossa vida se resume ao amor que damos às pessoas, e às pessoas a quem damos amor. Tenho a sorte de tão bons velhos. Tive a sorte de tão bons amores.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Epílogo do Livro de Uma Página sobre meu sonho.

Sonhei que ela voltava. Que estava aqui.
Luminosa e branca, subia ao céu perfurado. Saía do fundo do mar.
Na fila do metrô, na calçada, surgia ao meu lado.
Com aqueles olhos molhados. Ficava quieta, mas ali estava.
E sofríamos. Doía-nos e nos pesava o convívio.
Continuei pelo sonho. Por quartos de hotéis e praças, por mesas de jantar e balões de ar quente. Fiz afazeres e puxei conversa com os entes fictícios. E ela ali sempre, surgida recém-chegada.
E o sonho inteiro doeu.
Abri os olhos como se não tivesse dormido. Acordei melancólico e vazio, esburacado.
Em alguns instantes, na cama ao meu lado, minha mãe acordou e logo se pôs de pé, se pôs a vestir o trabalho. Se aprontou pra luta do dia, contra sol e cansaço. Logo já estava suada. Foi, guerreira.
E fiquei seco na cama.
Quando a lua retorna ao céu quero chorar.
E quando tento ser sol de novo, só faço queimar a pele. Secar e queimar a pele frágil de boas pessoas.
A escrita me condena, sirvo aqui a sentença. Completamente inibido. Tantas vezes negado.
Poderia morrer de solidão
Tristeza e remorso.
Fantasma me deixa em paz.